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A carta que levarei comigo!

Posted by Edinaldo Freitas on 21:45 in



Tirei um tempo para escrever essa carta, lembro-me do dia que pensei em como escrevê-la. Eu estava deitado com os olhos bem abertos, mirando o teto da casa, olhava firmemente cada ranhura no velho teto de gesso. A lua banhava a casa com um prateado pelas frestas da janela, e um vento gélido típico de final de inverno, dava as caras na rua. Mas isso pouco tem importância.

Queria ter escrito antes, mas não ouve tempo para que eu o fizesse. Meus olhos estavam cansados, meus braços mórbidos, imóveis. Minha mente delirava, eu ia e voltava 50, 60 anos atrás, tentei muitas vezes ir à frente, mas era impossível.

Lembranças de quando criança me vieram a cabeça, lembrei-me dos abraços e dos afagos de minha avó. Dos dias que passei sentado debaixo do pé de laranjeira, com os bolsos cheios de bolinha de gude. Rodeado de primos, todos brigando e se xingando até que nossos pais chegassem e colocassem todo mundo pra correr.

Talvez uma das melhores lembranças tenha sido a de meu primeiro e único amor. Ainda sinto os arrepios quando lembro-me de sua face me dizendo eu te amo! Bom minha querida, foram mais de 60 anos que passamos juntos, até que o tempo nos separou, mas hoje fecho meus olhos pela última vez, e vou ao teu encontro. Espero que esteja esperando por mim, talvez eu chegue primeiro que a carta, ou talvez a levarei comigo ou nem chegue a te entregar. 

Faço destas minhas últimas palavras, que senão faladas, foram pensadas. Faço dessa minha última carta, embora não tenha sido escrita, lembrarei de cada ponto, cada vírgula. Embrulho-a em um velho papel pardo, que antes guardava nossas fotos, hoje leva minhas lembranças. E faço deste meu último ponto, em meus textos e em minha vida.

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